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Túnel do tempo: Mensalão, há oito anos

Posted by Cottidianos on 00:35
Terça-feira, 17 de setembro de 2013

Imagem: http://calango74.blogspot.com.br/2012/08/mensalao-uma-historia-em-charges.html


Maurício Marinho – A gente procura agora ter muito cuidado com telefone, falar o mínimo possível (...). Uns tem escritório, a gente vai direto no escritório. Para evitar conversar, evitar problemas.

Interlocutor 1  - É que achei que era o contrário. Eu achei que ia ser problema entregar aqui o dinheiro.

Maurício Marinho – Aqui é mais seguro que lá fora, aqui não tem problema.

(Nisso, um dos interlocutores saca o dinheiro e estende o maço a Maurício Marinho, enquanto o outro interlocutor explica o significado desse pagamento).

Interlocutor 2 – Eu queria trazer para você o valor inteiro...

Maurício Marinho – Entendi, entendi.

Interlocutor – É só para assegurar aquela conversa que a gente tá tendo...

Maurício Marinho – Tá joia!

Interlocutor 2 – É uma questão até de estratégia, você vai entender isso (..). Agora fica mais simples a gente fazer o resto. Entenda isso como um sinal, um agradecimento à boa vontade.

Maurício Marinho – Não tem erro.

Com esse dialogo – transcrito de um vídeo que mostra o chefe de departamento nos Correios, Maurício Marinho, recebendo uma propina de 3.000 reais – a revista Veja acendeu o pavio de uma bomba que explodiu no Palácio do Planalto com tamanha força, que derrubou os principais assessores do então presidente, Luiz Inácio Lula da Silva e, por pouco, não derruba também o próprio presidente. A reportagem exclusiva foi apresentada na Veja de 18 de maio de 2005, sob o título:

EXCLUIVO: o vídeo da corrupção em Brasília – A incrível sequencia do dinheiro saindo das mãos do corruptor para o bolso do corrupto. Mais: diálogos inesquecíveis.

Em meados daquele ano, o Brasil assistiu estupefato, a uma sucessão de escândalos envolvendo desvio de dinheiro dos cofres públicos e que ficou conhecido como “escândalo do mensalão”.

Os dois empresários identificados na conversa como interlocutores 1 e 2, haviam ido ao prédio central dos correios com a finalidade de obter informações de como integrar o rol de empresas que forneciam equipamentos de informática aos Correios. Marinho foi claro e objetivo: “É preciso pagar propina”. Pagar dinheiro por fora, na linguagem informal. Com uma câmera escondida, os empresários fizeram o vídeo ao qual a Veja teve acesso. Ainda nessa, conversa que tratava de negócios de caráter duvidoso, Marinho cita um dos personagens principais dessa novela: o deputado Roberto Jeferson, presidente do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro). Segundo ele, as ordens para a execução dos serviços vinham do deputado e tudo era feito com o consentimento do governo. Sem saber que estava sendo filmado, Marinho fala ainda de licitações fraudulentas e do que acontecia nas reuniões nas quais se falava abertamente da realização de negócios escusos, chegando-se mesmo a estabelecer metas para tais transações.

A denúncia publicada pela Veja deixou o pessoal do Palácio do Planalto em polvorosa. O medo era de que viesse a se descobrir, como se descobriu mais tarde, que os tentáculos da corrupção se estendiam, não apenas aos correios, mas a diversos outros partidos, empresas estatais e privadas. Quando o Congresso tomou a iniciativa de fazer uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquerito), o governo fez a máquina funcionar para que tal não ocorresse. Fez de tudo para tentar impedir a instauração da CPI: fez uso de ameaças, acenou com a possibilidade de mais dinheiro para quem votasse contra, prometeu cargos de confiança. Apesar de todos esses esforços do governo, a CPI foi instaurada: 236 deputados e 52 senadores assinaram a realização da Comissão Parlamentar de Inquerito.

                                                                                    Roberto Jefferson
Imagem: http://www.blogdomauro.com.br/politica/advogado-de-roberto-jefferson-diz-que-lula-mandou-criar-o-esquema/910


A casa começou a cair para valer quando o deputado Roberto Jeferson resolveu falar o que sabia. Dessa vez, Jeferson falou ao jornal Folha de São Paulo e abriu o jogo. Disse que Delúbio Soares, tesoureiro do PT, pagava uma mensalidade de 30.000 reais aos deputados do PP (Partido Progressista) e do PL (Partido Liberal). como essa revelação, jogou o PT (Partido dos Trabalhadores), o partido do governo, no centro do furacão.

No princípio, os integrantes da cúpula petista e do governo usaram a linguagem do “ninguém sabe, ninguém viu”. Aos poucos, porém, as máscaras foram caindo uma a uma. Fontes diversas começaram a falar e a revelar que o mensalão realmente existia. Segundo essas fontes a distribuição do dinheiro era feita pelo tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, Delúbio Soares, em Brasília, na residência dos líderes dos partidos envolvidos no esquema criminoso.

As acusações não demorariam a chegar ao cérebro pensante da operação: o ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu. Dirceu era o “homem de ferro” do presidente. A situação do Ministro se tornou insustentável e, em junho daquele ano, ele deixava a Casa Civil.

Outro dirigente petista que também não escapou foi Silvio Pereira, o Silvinho. Silvio era secretário geral do partido e desempenhava papel fundamental na distribuição de cargos e funções. É interessante observar que, apesar de possuírem todo esse poder, tanto Delúbio quanto Silvio, não exerciam cargos públicos no governo, os dois eram apenas dirigentes partidários.

                                                                         Marcos Valério
Imagem: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Valerio122815.jpg


Falar de mensalão e não falar do publicitário Marcos Valério é contar a história pela metade. Valério era sócio de duas agências de propaganda: a DNA e SMP&B. As agências de Valério serviam como fachadas pra a distribuição do dinheiro aos parlamentares. A negociação ainda envolvia os bancos BMG (Banco de Minas Gerais) e Rural. Através desses bancos, Valério conseguia empréstimos fraudulentos que serviam para abastecer os cofres do PT.

Em 11 de abril de 2006, o Ministério Público Federal apresentou denuncia ao Supremo Tribunal Federal (STF), contra as 40 pessoas envolvidas no escândalo. No fim de agosto de 1987, o STF acolheu a denuncia contra a quadrilha dos mensaleiros e abriu processo contra eles.


Porque houve mensalão? A pergunta é simples de ser respondida: o sistema político brasileiro, da forma como está estabelecido, favorece a prática da corrupção. O gevreno loteia cargos de confiança. Esses cargos de confiança são necessários? Claro que sim, eles são peça-chave para que se tenha uma boa governabilidade. Mas sendo distribuídos aos milhares, como acontece no Brasil é prejudicial à democracia. Há três tipos de políticos que almejam estes cargos: os que querem realmente trabalhar, desenvolver um projeto; os que apenas querem visibilidade para as próximas eleições; e os últimos, a quem poderíamos chamar de ervas daninhas, que são aqueles que se aproveitam das atribuições que lhe foram confiadas para fazer negócios escusos. São esses últimos que envergonham a classe política e atrasam todo o desenvolvimento de uma nação.

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